: Fernando Pessoa
: In Evaristos Apotheke Der Bankier als Anarchist (1935)
: Kupido Literaturverlag
: 9783966750547
: 1
: CHF 11.20
:
: Soziologische Theorien
: German
: 128
: Wasserzeichen
: PC/MAC/eReader/Tablet
: ePUB
Fernando Pessoa erschuf eine Handvoll Heteronyme und diese eine in sich kohärente wie kontroverse Utopie. Pessoa hinterließ auch orthonyme Prosa, Texte die seinen Namen tragen, die aber nicht weniger Scharade sind als das Gros seiner unauslesbaren Texte. Zur kontroversen Utopie zählen vor allem seine politischen und esoterischen Texte. Wie tief verwoben sie dennoch sind, wie sehr für Pessoas Figuren gilt: 'Wir sind Geschichten, die Erzählungen produzieren', das zeigen die orthonymen Erzählungen In Evaristos Apotheke und Der Bankier und Anarchist aus Pessoas letztem Lebensjahr 1935, in denen der Autor die Extreme Tagespolitik und Religion zusammenhält.

Fernando Pessoa (1888 - 1935) ist neben Luís de Camões (16 Jh.) Portugals bedeutendster Dichter. Er schrieb auf Portugiesisch und Englisch und erschuf einen Kosmos aus literarischen Subjekten, Heteronyme oder Halbheteronyme genannt. Die wichtigsten dieser über 100 Protagonisten seines Dramas in Leuten hießen Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro und António Mora. Sein Buch der Unruhe, das mehrfach den Autor wechselte, ist sein meistgelesenes Buch, das über Jahrzehnte entstand und wie fast alle seine Werke Fragment blieb. Er verfasste auch Prosa unter der Autorschaft Fernando Pessoa-selbst. Pessoa gilt als die herausragende Persönlichkeit des portugiesischen Modernismus und interagierte mit sämtlichen Strömungen der europäischen Avantgarde, wie sein vielseitiger Briefwechsel belegt, unter anderem die umfangreiche Korrespondenz mit Mário de Sá-Carneiro, die im Kupido Literaturverlag erscheint.

O Banqueiro Anarquista (1935)


*Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa.

27²D-2 | Ms.Em torno de nós o restaurante calava-se, já quase deserto. Havíamos falado muito, e demorados, mas agora a conversa, que viera arrefecendo, jazia inerte entre nós.

Tentei reanimá-la com uma recordação que de repente me surgiu a respeito dele.

Ergui a cabeça e fitei-o, sorrindo, duplamente calmo, quedo.

27²D-5 | Ms.— É verdade: disseram-me aqui há dias uma coisa com piada a respeito de você.

A meu respeito?Var.: O que era? Coisa boa não era naturalmente.

— Nem boa, nem má. Simplesmente, achei-lhe piada. Disseram-me que você em tempos foi anarquista.

— Está errado, mas o que está errado é o «foi». Fui anarquista e sou anarquista.

— Essa é melhor ainda! … Então você … Ah, já compreendo: você é anarquista teórico. Você acha a doutrina anarquista boa, mas ou a acha inviável, ou pelo menos, inviável para você, na sua vida de banqueiro e grande comerciante.

— Não é nada disso. Sou anarquistanaVar.: em teoria e sou anarquista na prática. Sou banqueiro e grande comerciante nãoapesar de ser anarquista, masporque sou anarquista.

— Agora é que não percebo nada. Você estabelece entre o seu anarquismo e o seu negócio uma relação, por assim dizer, de causa a efeito.

27²D-6/7 | Ms.— Não é por assim dizer: é assim mesmo. Fiz-me banqueiro e grande comerciante em obediência – obediência consciente e propositadaVar.: orientada – aos meus princípios anarquistas.

Senti-me boquiaberto. Passei a mão lentamente pela testa, como para tirar um véu de pasmo, e consegui falar.

— Olhe lá: isto aqui há qualquer trapalhada. O mais natural é uma coisa que muitas vezes acontece em discussões: uma questão de definição.

— De definição como?

— Assim: estamos falando em anarquismo sem definir a palavra. Não nos entendemos, ou pelo menos, eu não o entendo. O mais certo é você entender por anarquismo uma coisa e eu entender outra … Diga-me o que entende por anarquismo.

— Por anarquismo entendo aquela doutrina social extrema queproclamaVar.: contende que não deve haver entre homens outra diferença ou desigualdades senão as naturais, nem pesarem sobre os homens outras peias ou outros males senão os que a própria Natureza dá … A abolição, portanto, de todas as castas, da aristocracia, do dinheiro, de todas as convenções sociais que promovam a desigualdade. A abolição, também, de todas as convenções sociais contra a Natureza, as pátrias, as religiões, o casamento … Não era isto que você entendia por anarquismos?

— Oh, homem, por desgraça, do meu juízo, era isso mesmo. Oiça: estou doido?

O banqueiro sorriu.

— E você quer curar-se? Se quer eu curo-o. O tratamento é um pouco longo mas dá resultado.