CAPÍTULO I ~ I942
Fleur Garton retirou-se do aposento onde jazia o corpo da Condessa de Sardou.
Depois da atmosfera pesada de um quarto de doente, o ar fresco do corredor deu-lhe nova energia, como se bebesse um copo de água gelada.
Ela foi à janela e abriu as cortinas. Fora, no jardim, os primeiros raios de um pálido sol dispersavam a neblina que cobria os verdejantes gramados.
Fleur suspirou, encostando a testa no batente de pedra cinzenta. Tinha olheiras profundas devido à noite de vigília, mas sentia-se estranhamente aliviada.
Ao longe, na linha do horizonte, um rolo escuro de fumaça toldava o céu azul. Era o resultado da destruição da véspera. Durante toda a noite uma chama rubra brilhara naquele local, onde aviões da RAF tinham bombardeado violentamente a região, desde o início da tarde.
Fleur ouvira o barulho das bombas caindo na fábrica, a trinta quilômetros de distância, uma fábrica onde os franceses produziam centenas de caminhões por semana, para o uso dos alemães que ocupavam a França. A casa onde ela morava sacudira ao impacto do bombardeio, mas a Condessa, ao saber do que se tratava, murmurara:
—Isso é bom. Só os ingleses poderão nos trazer a paz que tanto desejamos.
—Psiu,madame!— dissera Marie, a empregada—, não deve falar assim, os inimigos podem ouvi-la!
Mas Fleur sorrira com orgulho. Sim, eram seus compatriotas, os ingleses, que trariam a liberdade à nação francesa, conquistada e oprimida.
Agora, olhando para o espesso manto de fumaça, Fleur pensava em Lucien... Lucien voando orgulhosamente pelos céus… para logo cair em chamas, até o solo como tantos outros aviadores.
Os olhos de Fleur encheram-se de lágrimas.
«É estranho», admitia ela, «eu chorar agora por Lucien e não pela mãe dele».
A morte da Condessa fora muito suave. A distinta e aristocrática senhora de cabelos brancos e feições delicadas, o retrato perfeito dagrande dame, morrera com um padre paramentado e o médico da família à sua cabeceira. Marie soluçava aos pés da cama de dossel dourado, na qual gerações dos Sardou haviam nascido e morrido.
E essa cena, um tanto teatral, não causara pavor nem desespero a Fleur.
Somente após tudo terminado, ela tomava consciência de seu